terça-feira, 28 de setembro de 2010

O UNIVERSO SONHANDO: INVESTIGAÇÕES NO TERRITÓRIO ENTRE A CONSCIÊNCIA E A MATÉRIA

Por: Fred Alan Wolf

"Um extremo é a idéia de um mundo objetivo, perseguindo o seu curso rotineiro no
espaço e tempo, independente de qualquer tipo de indivíduo observador; isto foi a
imagem-guia da ciência moderna. Do outro extremo, está a idéia de uma pessoa,
misticamente experienciando a unidade do mundo e não mais confrontada por um
objeto ou mundo objetivo; isto tem sido a imagem-guia do misticismo asiático. O nosso
pensamento situa-se em algum lugar entre essas duas conceitualizações limitadoras;
temos de manter a tensão resultante destes dois opostos."
Werner Heisenberg.

Existe um território intermediário da experiência humana e animal que jaz na penumbra,
situado a meio caminho entre a mente consciente na sua consciência desperta aqui, e o
mundo físico, que todos consideramos como real e lá fora. Embora Heisenberg na
citação acima apenas se refira a uma "tensão" existindo entre o mundo interno do
indivíduo e o mundo externo do objeto, talvez estivesse se referindo a uma nova visão
conceitual do universo da mente e da matéria, baseada na física quântica. Irei referir-me
a este conceito como o "campo imaginal" e explicar o que isto apresenta em conexão
com o universo sonhando.

Henri Corbin, famoso estudioso do Islão, foi o primeiro europeu a utilizar o termo
campo imaginal (1). Na sua visão, este campo é ontologicamente real, como sugerem
minhas pesquisas dentro do campo do xamanismo (2) e sonhos, podendo ser mais real
do que a realidade que normalmente percebemos. Entretanto, é uma realidade que
geralmente existe situada além de nossa percepção normal, embora apareça-nos na
forma de sonhos ou outros fenômenos relacionados, tais como a experiência de quase
morte e possivelmente, raptos por UFOS (3).

Por mais moderno que este conceito de realidade possa nos parecer, os aborígenes
Australianos afirmam ter uma memória deste campo que vem de 150.000 anos atrás (4).
Chamam a esta memória, de Tempo de Sonho que, ao seu ver, contém todo o passado,
presente e futuro. Deste campo, o mundo da mente, matéria e energia tem suas origens.
E tudo isto surgiu, ha muito tempo atrás, como um sonho do Grande Espírito. Desta
maneira, o pensamento aborígene sugere que o universo ou Deus, está sonhando a
existência de tudo aquilo que experienciamos e que este sonho apresenta um elemento
mitológico definido, ou como colocaria C.G. Jung, um elemento arquetípico.

Porquanto as culturas ocidentais possam vir a lembrar-se, sempre houve uma profunda
fascinação com os sonhos. Eles foram considerados como possuindo poder divinatório
ou de antever o futuro; também foram considerados como um redespertar de memórias
do passado e mesmo, de vidas passadas. Muitas culturas acreditam que durante o sonho,
a alma abandona o corpo e viaja a outros muitos. Realmente, a Bíblia nos recorda dos
sonhos proféticos de José. Temos ainda os sonhos que se diz conferirem poderes
criativos ao sonhador. Temos apenas de pensar nos sonhos do poeta-filósofo William
Blake para lembrarmos do poder profético e criativo do sonho.

Recentemente surgiu um grande interesse em sonhos lúcidos (5). Este são bastante
diferentes dos sonhos ordinários, em conteúdo e experiência. Suas características
distintas são a consciência que se está sonhando enquanto o sonho prossegue e os
detalhes vividos que se pode recordar depois deste. Também se pode sentir uma espécie
de controle dos eventos no decorrer do sonho lúcido. (Faço uso desta expressão porque
em meus próprios sonhos lúcidos, o indivíduo sonhando sente-se diferente da pessoa
desperta normal de várias maneiras, embora ao mesmo tempo sei que sou eu, também.
A diferença mais marcante é a percepção de estar dividido em duas mentes conscientes:
a pessoa adormecida, em casa na cama e a pessoa experienciando o sonho, sabendo o
tempo todo que está em casa, na cama). Ao despertar temos a recuperação imediata do
sonho.

Recentemente tive a oportunidade de entrevistar pessoas que não somente apresentavam
sonhos lúcidos mas que, aparentemente, eram também capazes de despertarem, noite
após noite, num mundo paralelo onde apresentavam uma vida contínua, num corpo
diferente. (Eu mesmo tive essa experiência, assim como sonhos lúcidos ordinários).

Pretendo aqui apresentar um modelo dos sonhos e, possivelmente, de outras
experiências de outro mundo baseado na física quântica, na existência do campo
imaginal e no aparecimento de imagens holográficas no cérebro humano. Desejo sugerir
que o cérebro é algo como um receptor sensível capaz de se sintonizar com este campo
intermediário assim como com aquele que chamamos de este mundo. Irei fazer uso do
termo sonhar implicando uma ampla gama de experiências sensoriais que
aparentemente existem ou são experienciadas sem a intermediação de um componente
objetivo óbvio, incluindo os sonhos ordinários, sonhos lúcidos, experiências fora do
corpo, xamânicas e de UFOS, assim como outras. Não tentarei descrever como estas
experiências diferem entre si, mas irei sugerir não somente como os sonhos e outras
experiências extra-mundanas ocorrem, mas também como é que o cérebro sonhando e o
consciente desperto estão atuando. Irei tentar explicar tanto a consciência normal quanto
a do mundo dos sonhos, a partir de um novo ponto de visão, psico-quântico.

O ponto crucial de minha argumentação se apoia na existência deste campo
intermediário do qual nascem tanto a consciência ordinária quanto a do sonho. Desejo
sugerir que a vida que vivemos, pensamentos e sentimentos que possuímos e mesmo, o
próprio mundo da matéria e energia, nascem deste campo imaginal. Desejo também
sugerir que aquilo que chamamos de sonhos são imagens que emergem deste campo
através de um mecanismo holográfico, envolvendo ondas quânticas de informação que
nascem tanto no passado como no futuro.

O QUE É O CAMPO IMAGINAL?

Embora o campo imaginal possa sugerir muitas coisas dependendo dos interesses e
educação da pessoa, desejo fornecer uma definição deste baseada na física quântica. É
um espaço e tempo que é, como a zona do Além da Imaginação de Rod Sterling, o
campo da imaginação.

Ainda assim, imaginação não é realmente a palavra correta para descrever este algum
lugar. Isto porque dele surge tudo que subjetivamente existe no interior de nossas
percepções - nossos pensamentos, sentimentos, sensações, o espaço físico, tempo e
mesmo a matéria. Para compreender isto e sermos capazes de ver sua relevância à

experiência do sonho, vamos utilizar a perspectiva de física quântica para observarmos
como surge nossa experiência subjetiva do mundo.

Tenho estudado a física quântica por muito tempo e me interesso muito sobre como a
consciência e a física quântica se interpenetram (6). Estou especificamente interessado
em algo que é bastante bem conhecido na física quântica como o efeito do observador
(7). Um sistema quântico geralmente existe numa superposição de estados. Estes
estados correspondem aos atributos observáveis e portanto, mensuráveis, de nossa
experiência do mundo.

Por exemplo, existem estados correspondentes à localização de objetos físicos. Antes
que sejam observados, estes estados existem como ondas-nuvens fantasmagóricas de
possibilidades espalhadas ao longo do espaço e tempo, como uma névoa misteriosa. Os
físicos chamam a esta névoa de superposição de ondas quânticas.

Subitamente, com a percepção, observação ou cognição, esta multidão de estados torna-
se um único estado. No jargão, isto é chamado de redução do pacote quântico. Isto
significa que uma vez que um determinado estado é conhecido, sua onda de
probabilidade deve ser singular, pontuda num determinado lugar e tempo ao invés de
ser difusa e espalhada pelo espaço e tempo. Quando esta ponta ocorre na onda, o objeto
assume um aparecimento físico e o observador daquele objeto tem uma experiência
cognitiva.

Mas ninguém sabe como essa súbita realidade pontuda aparece. Não existe nada dentro
da própria física quântica que prediga esta ocorrência. Esta súbita ponta de realidade
constitui a base do Princípio de Incerteza de Heisenberg e deu origem a muitas
interpretações diferentes, todas, exceto uma, exigindo a existência de sistemas de crença
metafísica situados fora do campo da física quântica. A única exceção é talvez a menos
aceitável, embora seja a única que permanece dentro dos limites da física quântica. Ela
diz que o colapso pontudo não acontece. Esta visão é chamada de interpretação multi-
mundos da mecânica quântica e diz, claramente, que todas as possibilidades existem
simultaneamente. Elas existem agora, existem antes e depois, como um entremear
fantasmagórico de seqüências de histórias de eventos que se estendem para trás ao
início do tempo e para a frente, até o seu fim. Essa visão de possibilidades entremeadas
assemelha-se ao conceito aborígene do Tempo de Sonhos e do campo imaginal de
Corbin. Gostaria de salientar que estas são a mesma coisa vista a partir de bases
culturais e intelectuais diferentes.

Nessa visão de mundos paralelos entremeados, as ondas quânticas movem-se
imaginalmente, como se o tempo nada mais fosse do que uma dimensão do espaço. Não
existe uma seta do tempo presente. O que foi passado e irá ser no futuro são visto como
nada mais significante do que aquilo que se situa à direita ou esquerda da nossa
localização no espaço. Assim, fala-se do passado e do futuro como existindo do
momento presente, agora. Dada esta interpretação, como é que a experiência do mundo,
seja como consciência sonhando ou desperta, surge?

MENSAGENS DO CÉREBRO HOLOGRÁFICO

Como é que somos capazes de experienciar algo, seja proveniente de nossos sistemas
nervosos e cérebros ou do mundo externo ou de algo que aparentemente é gerado no

cérebro, como um sonho criado ao dormir? Como é que nasce a consciência? Deixem-
me sugerir uma resposta. Estou especulando, é lógico, mas acredito que nosso atual
conhecimento sobre as imagens holográficas pode nos guiar.

Os hologramas são construídos a partir de ondas de luz interferindo entre si e deixando
suas marcas num material fotossensível plano ou bidimensional. Essas ondas provêm de
duas fontes: uma fonte de luz coerente e do reflexo dessa onda por um objeto físico.
Quando a luz dessas duas fontes é absorvida pelo material fotossensível, um padrão de
interferência é registrado. Mesmo que este registro seja feito sobre uma superfície plana,
quando uma fonte de luz ilumina o holograma, uma imagem tridimensional deste
aparece.

A percepção da realidade tal como acontece em nossos cérebros e sistema nervoso é,
como acredito, uma seqüência de hologramas seguindo-se uns aos outros à medida que
a experiência ocorre no tempo. No cérebro, ondas quânticas estão produzindo eventos e
também são, simultaneamente, a percepção e iluminação daqueles eventos. Assim é
criado um holograma no cérebro.

Existem alguns elementos, tanto do processo de construção do holograma como do
campo imaginal que tornam essa hipótese mais defensável. Por exemplo, dados obtidos
pelo fisiologista ganhador do prêmio Nobel, Georg von Bekesy, indicaram que
indivíduos privados de seu sentido de visão iriam sentir sensações num espaço onde
nenhuma parte de seus corpos estava presente. Colocou vibradores nos joelhos de
pessoas e lhes pediu para abrirem as pernas. À medida que a freqüência vibratória era
alterada, a sensação parecia pular de um joelho a outro e depois, em certas freqüências,
parecia provir de um espaço situado entre os dois joelhos. As vibrações produziram
padrões de interferência no cérebro do indivíduo e assim recriaram holograficamente
uma experiência de realidade objetiva.

A sensação de sentir algo lá fora no espaço, quando o sentido visual é ocluído não é
mais misteriosa do que a sensação de ver algo lá fora na visão normal. A visão surge
holograficamente da mesma maneira que as sensações de percepção surgem. Assim,
acredito, o conceito holográfico explica como recriamos não somente a realidade visual,
mas todas as sensações da realidade. Reconstruímos a realidade ao produzirmos um
holograma visual, de áudio e sensorial em nossos cérebros. Ninguém sabe exatamente o
que existe lá fora.

Com isto, temos de encarar dois problemas óbvios: 1- onde se situa o indivíduo? e 2-
onde é criado o objeto? Deixem-me focalizar a experiência visual na tentativa de
responder essas perguntas. Descobrimos que responder uma é responder a outra.

ONDE ESTÁ O SEU 'EU', SUA ALTEZA?

Onde a visão se estabelece e onde o observador existe são coisas extremamente difíceis
de discutir. Quase todo o mundo que falou sobre o observador nos sonhos ou sobre este
assunto na vida ordinária irá encontrar alguma dificuldade com aquilo que irei colocar
aqui.

Onde está a pessoa que vê o holograma construído dentro do cérebro? Onde está aquele
homúnculo sentado no interior do cérebro e olhando o espetáculo? Em toda minha

pesquisa, ainda tenho de encontrar a localização daquele observador da realidade dentro
do cérebro ou do sistema nervoso. Assim, mesmo o mundo objetivo pareceria estar
perdendo seu apelo como realidade verdadeiramente objetiva, uma vez que depende tão
intensamente do subjetivo.

E com relação ao subjetivo? Assim como o "verdadeiro" objetivo, tal como a face do
gato em Alice no País das Maravilhas, que parece desaparecer, sou levado a concluir
que, mesmo no caso de algo subjetivo, não existe nada lá fora. Não existe a pessoa.
Como ensinou o Buda, não existe o eu, nenhum tempo, nada é real. O uso que o Francês
faz da palavra personne é para implicar ninguém. Não acho que exista uma testemunha,
qualquer observador fundamental presente, por mais estranho que isto possa parecer. É
uma ilusão. Mas se for assim, então o que está acontecendo? Não me compreendam
mal. Existe algo acontecendo, mas não é aquilo que lhe parece, porque na realidade
você não existe.

O NASCIMENTO DA EXPERIÊNCIA

No mapa de mundo da física clássico, toda a experiência está representada por
seqüências de eventos. Todos os eventos são descritos por três atributos: massa ou
energia, espaço e tempo. Aqui jaz o problema. Isto porque um evento não pode ser
verdadeiramente descrito desta maneira. A razão disto é sutil e nada tem a ver com a
natureza da física quântica - particularmente o papel do observador na criação das
possibilidades das atualizadas que constituem a experiência.

Na versão multímodos da física quântica, o observador, ao observar, é acoplado à coisa
observada. Antes que seja observado, um sistema existe como uma mistura de um
número infinito de estados possíveis. Quando o observador ingressa no jogo, ele ou ela
na realidade observam cada um daqueles estados, embora cada um exista num mundo
diferente. O observador é pego por aquilo que é observado e pareado com este num
dado mundo. Assim, quando um observador observa um elétron na posição A num
átomo, o elétron parece estar afixado naquela posição. Mas as outras posições possíveis
do elétron não deixam de existir. Existe ainda um observador, observando o mesmo
elétron na posição B - mas num mundo diferente.

Assim, não acontece que as outras possibilidades de nuvens-ondas fantasmagóricas
subitamente se dissipem enquanto que uma delas se materializa, mas sim que todas as
possibilidades estão presentes e o observador está acoplado a cada uma delas. Em cada
mundo, onde exista um atributo físico, existe um observador observando aquele valor
para aquele atributo. No modelo holográfico cerebral que estou colocando, o observador
ao observar, na realidade passa a fazer parte do holograma. O observador assim é
transformado pelo seu ato de experienciar.

O observado e o observador são a mesma coisa, ao mesmo nível de um holograma
vivente situado dentro do cérebro. Ainda assim, os hologramas ordinários requerem um
observador situado fora do holograma. O que faz com que o holograma cerebral seja tão
diferente de todos os demais hologramas? A diferença é que o holograma é um
constructo tridimensional (3D) - uma película espessa ao invés de fina, provavelmente
consistindo da córtex que recobre o velho cérebro. Todos os hologramas laser-ópticos
que os humanos construíram atualmente são bidimensionais (2D), bastante bons para
recriarem imagens em 3D.

O cérebro, entretanto, é um objeto tridimensional, se parecendo com um tapete espesso,
convoluto. Uma vez que hologramas 2D reconstruem imagens 3D, por analogia, um
cérebro 3D poderia ser dito como sendo capaz de reconstruir uma imagem
tetradimensional (4D). Isto é aquilo que chamo de experiência cognitiva ou sensorial.
Estou sugerindo que o tempo, definido por Einstein como a quarta dimensão, é
reconstruído pelo holograma cerebral. Mas, se o tempo é um constructo cerebral, então
como é que o tempo seria experienciado? A resposta é você.

Essas experiências holográficas no cérebro são como clarões; cuja seqüências de clarões
acabam constituindo tanto a origem do tempo como do eu. Os clarões são o desenho e o
observador do desenho ao mesmo tempo. Em hologramas 2D normais, temos um
observador observando o holograma, que está separado do observador. Nas seqüências
3D, o observador e o holograma são a mesma coisa. Não existe ninguém observando a
movimentação interna da córtex cerebral, já que esta é o próprio observador. O eu é a
seqüência de eventos daquela movimentação. Assim o eu surge no tempo.

Existe um campo primal do qual tudo isto surge? Diria que sim e o conectaria com o
campo imaginal. No campo imaginal não existe nem tempo nem espaço. Mas dele,
todas as possibilidades e todos os observadores surgem. Nele o objetivo é experienciado
como espaço e o subjetivo como tempo. Isto ocorre porque aquilo que queremos definir
como objetivo está lá fora, enquanto que o subjetivo é experienciado no tempo, mas não
tem um componente espacial. A física clássica via o tempo como uma dimensão real. A
Relatividade começou a ver o tempo como uma dimensão imaginal, mas somente com a
teoria quântica é que foi totalmente compreendido como tal.

A montagem das informações sensoriais a partir do campo imaginal cria uma ação no
cérebro a que damos o nome de consciência. A consciência do eu dos eventos, nada
mais é que o mapeamento da experiência ao longo do tempo. A consciência ordinária ou
desperta de eventos, é o mapeamento da experiência no espaço. A consciência no sonho
é o mapeamento da experiência no campo imaginal. A consciência desperta e do sonho
ocorrem simultaneamente: a consciência do sonho é simplesmente suplantada pela
consciência desperta quando estamos despertos e vice-e-versa, quando adormecidos.

Assim, o mundo do espaço, tempo, matéria, energia, pensamento e sensação nascem do
campo imaginal. Tanto espaço e tempo emergem como dimensões resolvidas do campo
imaginal, registradas pelo holograma cerebral.

O SONHO DO UNIVERSO SONHANDO

As imagens holográficas em 3D são diferentes daquelas em 2D. Uma diferença é que
existe um número infinito de imagens da variedade 3D: isto se correlaciona com a teoria
da física quântica de multi-mundos. A onda que ilumina o holograma representa todas
as possibilidades que podem existir. Na física quântica, o progresso dos possíveis
estados do átomo na sua atualização (ou seja, na sua concretização numa realidade
"objetiva") nasce de um tipo de duplo movimento: a interferência de padrões de
interferência que são produzidas pelas ondas produzidas pelo próprio movimento é que
dá origem às probabilidades (Nota do tradutor: na formação de um holograma, se faz
uso de um único feixe de luz coerente (laser) que, dividido em dois feixes, um irá ser
diretamente registrado na placa fotossensível, enquanto que o outro, irá primeiramente

interagir com o objeto a ser registrado, antes de ser igualmente registrado pela mesma
placa fotossensível na forma de padrões de interferência, logo temos um exemplo de um
movimento - luz coerente - produzindo uma interferência em si mesmo, isto resultando
num holograma 2D.) Estas probabilidades tornam-se caminhos através do espaço e
tempo "reais".

O observador está em todos estes caminhos, simultaneamente. Aqueles caminhos que
tendem a aproximarem-se entre si em termos de possibilidades, dão origem à nossa
consciência ordinária desperta. Aquilo que chamamos de eu nada mais é que a
percepção dos caminhos mais comumente trilhados e é onde surge o nosso sentido de
escolha. A cada ponto no tempo, existem outros caminhos mais ou menos comuns.
Geralmente notamos apenas os caminhos mais prováveis.

Quando é que um sonho é experienciado? Sabemos agora, através do trabalho de J.
Allan Hobson (8) e outros, que existe um mecanismo no tronco cerebral que desliga os
estímulos provenientes do mundo externo, quando estamos adormecidos. Quando
desativamos o fluxo de informações que vem do exterior, apenas a informação residindo
no sistema é percebida. Chamamos isto de realidade subjetiva. Durante o sonho, a
realidade subjetiva é tudo que podemos experienciar.

Na consciência desperta ordinária, ambas realidades, subjetiva e objetiva estão tentando
se impor sobre nosso cérebro. Mas a realidade do sonho é suplantada pela quantidade e
intensidade dos estímulos que nos chegam a partir do mundo exterior. Você está
sonhando agora. Assim como todos nós. Não percebemos isto normalmente, devido ao
acúmulo de informações provenientes do mundo externo, solicitando processamento
cerebral. E, enquanto estamos observando o mundo externo, o nosso sentido de ser,
assim como o nosso sentido de realidade subjetiva tornam-se difíceis de serem
observados (Provavelmente, quando o ambiente torna-se menos sedutor e nos
encontramos num estado de aborrecimento, existe uma tendência de registrar melhor
este segundo estado de sonho, naquilo que chamamos de sonhar acordado, ou
imaginação, nota do tradutor).

Ainda assim, torna-se possível observar o eu sonhando. Durante certas experiências
pouco usuais do estado desperto, tais como a iniciação xamânica, indução de transe,
meditação e possivelmente, nas experiências que são traduzidas como encontros com
UFOS, a porção expandida ou sonhadora do eu do holograma é experienciada. Algo
semelhante poderá acontecer durante as sincronicidades. É uma história sem fim. Você
poderá observar a testemunha observando a testemunha que observa a testemunha.
Podemos seguir em frente pela eternidade, porque existe um número infinito de
testemunhas. O processo segue-se pela eternidade, como quando observamos nossas
imagens refletidas em espelhos pareados.

Não existe nenhuma pessoa presente. A pessoa é um constructo. Assim que você
percebe que é um constructo, imediatamente ingressa num estado de testemunho. Uma
vez dentro deste novo estado, você vê que ainda é uma projeção. Uma vez que está num
estado de testemunho de si mesmo, fazendo seja aquilo que esteja fazendo no momento
do testemunho, verá que isto nada mais passa que outra ilusão. Se você continuar
fazendo isso, irá normalmente cavalgando uma seqüência infinita de espelhos, numa
aventura que lembra a jornada de Alice através do espelho.

Poderemos interpretar isto como um caminho conduzindo ao Deus-Eu ou ao Espirito
Sonhador aborígene australiano original. Também poderemos aceitar que não há nada.
Agora, por que sonhamos? Como disse, o sonho em si mesmo é testemunhado quando
bloqueamos os estímulos externos. Num sentido mais real, enquanto sonhando,
tornamo-nos mais cônscios daquilo que estamos fazendo naquele preciso momento,
daquilo que está acontecendo o tempo todo dentro de nosso cérebro: o processamento
contínuo das imagens holográficas. Essas imagens, esta contínua reconstrução do
holograma é algo vital, se desejamos sobreviver e, mais importante ainda, tornarmo-nos
totalmente conscientes.

Aprendi isto nas selvas do Peru, com os xamãs. Fui capaz de ter imagens semelhantes a
sonhos enquanto debaixo da influência de ayahuasca. Nessas experiências de sonhos
despertos, notei que algumas imagens assemelhavam-se a sonhos lúcidos (sonhos onde
a pessoa adormecida possui a consciência de que está sonhando e algum grau de
controle sobre os eventos do seu próprio sonho, nota do trad.), embora a maioria das
imagens não eram. A lucidez simplesmente acontecia por curtos espaços de tempo,
geralmente não mais que alguns segundos, de forma aparentemente casual. No restante
do tempo, as imagens eram difusas e algo sem sentido. Os episódios lúcidos sempre
ocorriam em cores plenas, com um sentido de presença pessoal na cena, um total senso
de realidade permeando a experiência destes momentos. Sentia-me como numa espécie
de truque mágico ou espetáculo. Interpretei isto tudo como uma espécie de Disneylândia
do cérebro e, por um breve instante, percebi o segredo de como o truque era feito.

O SHOW MÁGICO DO UNIVERSO

"Você também aprendeu o segredo o rio - que não existe algo como o tempo?"

"Sim, Siddhartha, é isto que quer dizer? O rio está em todos os lugares ao mesmo
tempo. Na fonte e na foz. Na cascata, no leito, na corrente em movimento e nas
montanhas. em todo lugar. O presente apenas existe por si e não a sombra do passado
nem a sombra do futuro".

"É isto", respondeu Siddhartha, 'E então aprendi que enquanto revia a minha vida, ela
também era um rio. Siddhartha o menino, Siddhartha o homem maduro e Siddhartha o
velho estavam apenas separados por sombras, não pela realidade."

"As vidas anteriores de Siddhartha também não se encontravam no passado, a sua morte
e retorno a Brahma não estavam no futuro. Nada estava, nada estará, tudo tem realidade
e presença." (9)

A partir do ponto de partida do espaço, tempo e matéria, as ondas quânticas no cérebro
vão para frente e para trás no tempo e criam caminhos neurais a partir dos quais o
comportamento habitual nasce. Isto define a estrutura do holograma, no qual todas as
imagens são registradas como uma mistura de fato e mito.

O sinal retornando no tempo a partir do futuro tem de correlacionar-se com aquele que
vem vindo através do passado. Este é o porquê de não sermos capazes de ver o futuro
com facilidade. Estamos mais preocupados com a sobrevivência do que em viver o
nosso mito. Chamamos a isto de condicionamento do passado. Este condicionamento

nos impede de ver o futuro. As pessoas que tem essa visão são capazes de iluminar os
hologramas do cérebro de uma maneira diferente.

Não podemos mudar com facilidade os caminhos neurais que foram fixados durante
períodos críticos de crescimento: não podemos mudar estruturas com facilidade. Este é
o porquê da psicologia encontrar tamanha dificuldade com os seus pacientes. Tudo que
podemos fazer é perceber que não temos de iluminar o holograma sempre da mesma
maneira, sempre que uma situação nova nos surja pela frente. Por exemplo, você está
com uma pessoa e percebe que está ficando muito irritado ou irado com algo que ele ou
ela lhe disse. Provavelmente, você está revivendo uma reação a um de seus pais quando
tinha seis meses de idade e registrou uma reação de ira deste contra você. Quando isto
surgir no momento presente, tudo que necessitamos é reconhecer que a ira que estamos
sentindo é apenas um mero programa induzido quando éramos bebês; um tipo de
lavagem cerebral. Ao mesmo tempo, se aceitarmos a premissa de que não existe
nenhuma pessoa no sentido convencional da palavra, temos de aceitar que é o universo
que está fazendo as escolhas.

Dada a condição de atemporalidade das ondas quânticas até mesmo vidas passadas
poderiam estar atuando nesse reviver holográfico. Essas vidas são carreadas pelas ondas
quânticas do universo e são provavelmente percebidas no código de DNA que herdamos
de nossos pais. Finalmente, se voltamos para trás no tempo o suficiente, iremos ver que
toda a humanidade surgiu de um ou dois ancestrais comuns. O sistema de DNA pode
ser visto como uma vasta biblioteca, contendo ondas de informações holograficamente
registradas, ou funcionar como um sistema receptor para ondas quânticas que foram
construídas para a humanidade.

Poderemos perguntar de onde essas ondas quânticas estão vindo. Neste ponto, é
conveniente retornar ao Tempo de Sonhos ou Grande Espírito do pensamento
aborígene. Neste ponto, a visão aborígene e do mundo científico começam a se unir;
poderemos dizer que as ondas quânticas são as ondas cerebrais do Grande Espírito.

Somos todos feitos do mesmo material. Todos temos acesso à mesma biblioteca.
Mesmo nossas conexões com plantas e animais podem ser vistas ao olharmos as
semelhanças existentes nas estruturas do DNA e outras moléculas. Somos todos parte de
uma grande família. Assim, poderemos ter acesso a memórias de vidas passadas que
pareceriam extremamente distantes em comparação à nossa família atual. Assim a
individualidade, no sentido de que cada um de nós é uma entidade única é ,
fundamentalmente, uma ilusão. Almas individuais são construções egoístas do Grande
Espírito. Existe apenas uma única alma, um eu. Esse eu, que os aborígenes chamam de
Grande Espírito ainda está sonhando. Esse sonho é o universo e é também o sonho do
universo. O observador do sonho e o sonho são a mesma coisa. Podemos apenas
perguntar o que irá acontecer quando o sonhador despertar.

Referências:

1. Ver Henry Corbin, Mundus Imaginalis or the Imaginal and the Imaginary (Ipswich,
England: Golgonooza Press, 1976).

2. Fred Alan Wolf, The Eagle's Quest: A Physicist's Search for Truth in the Heart of
The Shamanic World (New York: Summit Books, 1991).

3. Por exemplo, ver Peter M. Rojcewicz, Signals of Transcendence: The Human-UFO
Equation, in Journal of UFO Studies, New Series, Vol 1 (1989), p.111.

4. Por exemplo, ver Jim Pouley, The Secret of Dreaming (Templestowe, Australia: Ren
Hen Enterprises, 1988); Peter Sutton, ed., Dreamings: The Art of Aboriginal Australia
(Victoria, Australia: Penguin Books, 1988); e Jean A. Ellis, From the Dreamtime:
Australian Aboriginal Legends (Victoria, Australia: Collins dove, 1991).

5. Ver Jayne Gackenbach e Jane Bowvel, Control Your dreams: How Lucid Dreams
Can Help You Uncover your Hidden Desires, Confront Your Hidden Fears and Explore
the Frontiers of Human Consciousness (New York: Harper & Row, 1989) e Setphen
LaBerge PhD, Lucid Dreaming: The Power of Being Awake and Aware in Your
Dreams (Los Angeles: J.P. Tarcher, 1985).

6. Ver Fred Alan Wolf, The Quantum Physics of Consciousness: Towards a New
Psychology, Integrative Psychology, Vol 3 (1985), pp.236-47, e On The Quantum
Physical Theory of Subjective Antedating", Journal of Theoretical Biology, Vol 136
(1989), pp.13-19.

7. Fred Alan Wolf, Taking the Quantum Leap: The New Physics for Nonscientists, rev.
ed. (San Francisco: Harper & Row, 1981).

8. Para exemplo, ver J. Allan Hobson, The Dreaming Brain (New York: Basic Books,
1989).

9. Hermann Hesse, Siddhartha, Hilda Rossner, trans. (New York: New Directions,
1951).

Fred Alan Wolf é um físico conhecido pelos seus insights sobre as conexões entre a
ciência e a consciência. É autor de trabalhos tais como The Eagle's Quest: Taking The
Quantum Leap e Parallel Universes. Este artigo foi tomado de seu trabalho The
Dreaming Universe que foi publicado pela Summit Books em 1993.

Adaptado de Gnosis Magazine número 22 por NoKhooja
Publicado no Tentáculo

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